quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Augusta

AUGUSTA

"... Rasgando as almas que na sombra tremem." Violões que choram. Cruz e Souza.


De bruços, atirada na areia, olhos fixos no mar, Augusta desfrutava de merecidas férias, no litoral carioca. Imagens difusas e distantes passavam pela sua cabeça. Lembranças de outros tempos, de desafios vencidos, de derrotas ocasionais. Pensava no entusiasmo que a levou a vencer obstáculos, a seguir em frente, a lutar por tudo aquilo que a movia diante da vida. Pensava que já não era jovem, que abdicaria de certos sonhos, que não experimentaria ilusões em relação ao próprio cotidiano.

Sempre fora ela uma mulher de vanguarda. Como tal, correra riscos , conscientes e inconscientes. Rompeu barreiras. Atravessou mares e preconceitos. Não saberia nunca encarar o mundo como um período constante de calmaria, sem a agitação das ondas e o perigo das águas em um turbilhão de redemoinhos.

Hoje sentia-se em paz. E essa paz a incomodava. Não teria mais como viver em ritmo de fuga, preocupada apenas consigo mesma: o futuro se transformara em presente e não lhe permitia olhar para trás. Compromissos não lhe concediam o direito de partir. Mundo de cartas marcadas, sem muita graça e emoção. Mas, mesmo assim, o mundo é belo porque é variado, refletia Augusta, virando-se na areia para atender o celular. Era sua filha que a esperava no hotel. Juntas, sairiam para almoçar.

Augusta, sorrindo para si própria, lembrou que fora na longínqua Austrália que optara pela maternidade. Levantando-se, com uma certa pressa, recolheu seus objetos para ir ao encontro daquela que, de certa forma, fizera dela uma mulher mais corajosa, pela responsabilidade em ter assumido sozinha um ser que dela dependia para viver e ser empurrado para o desconhecido.
A vida, às vezes, pode se tornar uma bela aventura, concluiu Augusta, feliz e contente, nessa manhã ociosa e ensolarada que lhe possibilitou um bela viagem em torno de si mesma.

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