sexta-feira, 2 de setembro de 2011


Discurso proferido na Câmara Municipal de Vereadores no dia 29 de junho de 2011.
     Ilustríssimo Senhor Presidente deste Legislativo vereador Sérgio Moreira, Senhores vereadores e demais autoridades que compõem a Mesa já nominadas pelo protocolo. Senhores e senhoras, boa noite.

    O cometimento que recebo neste ato festivo  alusivo aos 154 anos deste Poder Legislativo, nesta noite solene se me chega por demais honroso, me transporta ao dever, ao encargo de tentar traduzir o seu significado, ou seja, a importância desta Casa no nosso município, embora em pálidas palavras do que antecipadamente, me excuso.

    Agradeço, então, ao Diretor Geral deste Poder Sr. Jobahir Alves Vares, pelo convite que me foi formulado para estar aqui presente neste momento de congraçamento e de singular significado para todos nós, santanenses.

    Muito se tem escrito sobre a divisão dos poderes desde que Montesquieu, no século XVIII, escreveu: “L’Esprit des Lois” – O Espírito das Leis – onde ressalta que: ”não é o corpo da lei que eu procuro, mas a sua alma”. Assim, toda lei para Montesquieu, mesmo odiosa, mesmo absurda na aparência, se não é fundamentada na razão, não tem razão de ser. Ele afirma ainda que em um mundo moral a lei e o fato não coincidem sempre, mas no século em que viveu ele acreditava que o progresso era possível.
   De lá para cá o mundo mudou. Presenciamos as vertiginosas mudanças sociais que ocorrem à nossa volta nesse processo de globalização. Mas não mudou a visão que o homem possui do poder enquanto cargo eletivo. Isso se deve, em parte, pela recente história do voto em nosso país, sempre intercalado por longos períodos de arbítrio, por regimes de exceção. Assim, observamos partidos políticos muitas vezes desestruturados que relegam ao segundo plano os reais interesses comunitários. Pode-se afirmar que mudam os governantes, mas não modificam a tática política que, na maioria das vezes, coloca os interesses individuais e pessoais acima dos coletivos e sociais. E essa dicotomia entre o pensar e o agir vem prejudicando, ao longo dos anos, o que designamos de um verdadeiro Estado democrático de Direito.

    Este Poder Legislativo, desde sua fundação em 1857 foi cenário de embates calorosos em que a retórica e o discurso inflamado de muitos de seus integrantes nunca permitiu a opacidade do mesmo. Encaminhar anteprojetos de lei, pedidos de providência, indicações, votos de aplauso e de pesar, além das homenagens aos ilustres cidadãos que labutam diuturnamente para o desenvolvimento social e econômico de nosso município não atesta a total independência dos legisladores como reza o instrumento jurídico através das competências e atribuições pré-estabelecias.
Assim verifica-se a política do troca-troca, do toma cá dá lá, dos favorecimentos ocasionais, do empreguismo, do nepotismo decepcionando sobremaneira o que o eleitor espera de seus representantes.  O povo elege seus representantes através do voto secreto e direto. O povo é soberano na escolha de seus governantes. O povo faz, portanto, a democracia. Mas o povo também, por vezes, mal informado e levado por falsas expectativas é sim o grande responsável pela permanência desse status-quo.

    Falta, com certeza, amadurecimento político e social, cujas decisões não devem ser fruto do imediatismo, mas das reais possibilidades de construção sociais previamente planejadas visando apenas o interesse comunitário.

    A realidade do Poder Legislativo é a mesma para todos os municípios da federação. Para usar um termo muito em voga, no momento, pode-se dizer que ela é republicana. A importância do Poder Legislativo é incomensurável. É nele que surgem os debates das idéias, onde as questões cotidianas dos grupamentos sociais são colocadas, onde se discute problemas e se procura soluções. Mas ainda o poder no qual se possibilita o vilipêndio, as injustiças, as calúnias e difamações. Tudo isso também é democracia.
    Temos uma imprensa livre, onde cada um de nós é um formador de opinião. Daí o cuidado que se deve ter com a palavra no exercício das próprias prerrogativas.

    A política é a responsável pelo avanço ou retrocesso de uma nação. Seria pueril não admitir essa veracidade. Mas precisamos amadurecer e entender que é necessário avançar pelo bem do nosso povo e para aprendermos a não transigir na luta que deve ser constante na defesa de uma sociedade mais humana, humanizada e humanizante.

    Sabe-se que há aqueles que durante toda uma vida se destacaram pelo trabalho continuado, pertinaz na construção de seus ideais ao lado do progresso e do desenvolvimento social. Mesmo que, nem sempre a comunidade se aperceba da grandeza e da importância de seus trabalhos construtivos.

    Vivemos em uma época em que a imagem do homem público está por demais desgastada. Fazer política hoje exige coragem e determinação. A corrupção e os maus exemplos em todos os níveis de atuação deterioram a imagem do homem público. Mas há aqueles que, no exercício da cidadania, pelas mais diversas razões passam a conviver  com o grupo comunitário acrescentando-lhes, paulatinamente ao longo dos anos contribuições as mais diversas, algumas até imperceptíveis. Essas pessoas, obviamente, passam a ser extremamente importantes, mas, independente de sua contribuição de trabalho, conseguem elas, se integrar ao espírito da comunidade comungando cotidianamente de todas as pulsações e anseios da sua vida social.
    Essas pessoas são os senhores vereadores que aplicam assim, longos espaços de suas vidas para a construção do progresso da cidade voltando sua atenção para as lutas e vicissitudes da população.

     Mas só a prática continuada da real democracia é tarefa essencial dos que detém cargos eletivos, sobretudo em uma época em que o sistema federal formalmente garantido nos textos constitucionais perde força cotidianamente e paulatinamente, se anula de forma dramática. Assim o municipalismo vem sendo sufocado pelos governos centrais mais fortes com o sepultamento progressivo da autonomia dos Estados e Municípios.

    Por esse e por outros fatores sentimos que o municipalismo, lastreado na operosidade de pessoas e entidades que lutam pela equalização do desenvolvimento regional, nos diversos centros do país, assume um papel insubstituível na consciência comunitária.

    Por mais de um século e meio muitos foram os vereadores que escreveram a história desta Casa, com trabalho e dedicação ajudaram de forma efetiva uma comunidade como esta nossa, com a sua história de lutas e infortúnios.

    George Steiner, em suas notas para a redefinição da cultura diz: ”Não é o passado literal que nos governa, a não ser,  possivelmente, em um sentido biológico. São as imagens do passado. Uma sociedade requer antecedentes. Quando estes não estão naturalmente à mão, quando uma comunidade é nova ou foi reagrupada após longo intervalo de dispersão ou de sujeição, cria-se, por decreto intelectual ou emocional, um tempo passado, necessário `a gramática do ser.”

    Nossa sociedade alimenta o gosto pelo efêmero, passado e futuro não são referências psicológicas e sociais predominantes, mas sim o presente como instante fugaz. E é, pois, nesse instante presente que nos curvamos solenemente diante à lembrança de todos aqueles que passaram por esta Casa.  A todos que já partiram e  deixaram com seus atos e palavras suas marcas indeléveis neste Parlamento e que conosco conviveram, nossa homenagem de respeito e de saudade.

    Por derradeiro, cumprimento os senhores vereadores, a todos os funcionários desta Casa do Povo agradecendo pela tolerância que tiveram em me ouvir deixando aqui, na singeleza de minhas palavras, minha perene homenagem pela data de hoje.
   
                Maria Schenkel Ibarra, um exemplo de vida.
                                    
                         “’Que eu não tenha nunca por objetivo o reconhecimento ou gratidão.” Oração do Mestre. Maria S. Ibarra.




         Pretérito. Tempo verbal que não se gostaria de empregar quando recordamos àqueles que amamos e já partiram, ainda que a lembrança seja de alegria. Mas a saudade que experimentamos hoje pela Dona Maria será sempre presente e não passado.  Lucien Jerphagnon , historiador e filósofo francês, em sua matéria publicada na revista Le Point, tendo por título La Belle Espérance,  discorre sobre o tema morte.  Ele afirma que para abrandar o medo e a não certeza de uma existência póstuma, o homem inventou os mitos. Talvez o autor de “Au bonheur des sages”, tenha razão.
    Dona Maria, como a chamávamos carinhosamente, exemplo de retidão e coerência se transforma em ícone ou mito, para todas as gerações que receberam seus ensinamentos que valem como uma lição de vida. Tendo se dedicado ao magistério durante longos anos possuía a competência nas disciplinas que lecionava como matemática, português, francês, literatura, psicologia educacional entre outras. Costumava ela dialogar com os alunos defendendo seus posicionamentos sem autoritarismo. Tinha uma imensa capacidade de compreensão do ser humano acompanhando as mudanças sociais que ocorriam à sua volta. Era uma mestre.  Ocupava a cadeira no.1 da Academia Santanense de Letras.  Autora de vários artigos nos jornais locais, tendo participado das coletâneas”O livro dos Patronos”, e “S. do Livramento Corpo e Alma”, ambos publicados pela Academia Santanense de Letras. Em 1987, recebeu o título de Cidadã Santanense Honorária, concedida pela Câmara Municipal de Vereadores. Em 1992, Título e Medalha de Educador Emérito honraria concedida pelo Governador do Estado através do Decreto no. 34508. Anteriormente, em 1959, um Ato de Louvor da Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Rio Grande do Sul lhe é outorgado por eficiência, dedicação e desprendimento no exercício de suas atividades profissionais.
    De seus múltiplos artigos sobre educação e atividades assistenciais e culturais de nossa cidade convém ressaltar o que ela diz na sua Oração do Mestre:”Que eu mantenha o meu otimismo e a minha confiança durante a Vida e apesar da Vida, certa de que esta é renovação constante.” Com certeza ela soube transmitir amor na prática do bem. Ensinou a esperança e alegria para as gerações vindouras. Só nos resta agradecer pela sua existência e pelo privilégio que tivemos de com ela conviver.
   
                        Maria Regina Prado Alves